Valena – Capítulo 18

Publicado em 11/11/2018
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18. Duro na Queda

– Então, está confirmado? – Valena perguntou, em um sussurro, enquanto segurava o capuz, para impedir que o vento frio lhe descobrisse o rosto.

– Eu não tenho dúvidas – respondeu o sargento Jeniliaro Lacerni, no mesmo tom, olhando, preocupado, para os dois lados do beco escuro. – Conversei com quase todo mundo no palácio, e os relatos pintam um cenário bastante óbvio. Ele enviou um mensageiro para o deserto para buscar o que deveriam ser poções medicinais, foi pessoalmente receber o homem quando ele voltou e depois visitou várias vezes o curandeiro que cuidava da… daquela senhora. O curandeiro afirma que as poções estavam tendo um efeito surpreendente e a senhora já estava se sentindo muito mais forte. Infelizmente, ela pegou essa “febre misteriosa”.

– O curandeiro não desconfia que essas “poções” poderiam ter algo a ver com a febre?

– O homem descarta essa possibilidade como “bobagem”.

Valena levantou a sobrancelha, inconscientemente imitando o gesto característico do general Leonel Nostarius.

– É mesmo? Com base em que ele afirma isso?

– Aparentemente, em nada. Ele parece acreditar nisso com tanta convicção que se recusa sequer a pensar na possibilidade de estar errado. Aliás, percebi esse mesmo tipo de comportamento em muita gente por lá. Muitos tabus, muita mitologia, muitas alegações sem embasamento.

Valena sentiu um arrepio e cruzou os braços, incomodada.

– Sempre achei que isso fosse apenas impressão minha.

– Não é, não – ele suspirou e olhou para o chão.

– Ninguém desconfiou que o senhor estava… bisbilhotando o que não devia?

– Duvido. – Ele continuou encarando as pontas dos próprios sapatos, quase invisíveis na penumbra. – Como eu fui o responsável pela investigação sobre os fatos ocorridos no dia do falecimento do imperador, a maior parte das pessoas já me conhecia. Com a alegação de “ter encontrado novas evidências”, ninguém se importou de conversar comigo.

– Ótimo. Obrigado por tudo, sargento, eu vou tomar providências.

– Estou feliz que tenha entrado em contato comigo, mas tem uma coisa que eu ainda não entendi: por que eu? Quero dizer, você poderia pedir ajuda a quem quisesse, até mesmo à Guarda Imperial.

– Eu precisava de alguém em quem pudesse confiar. Alguém que me conhecesse antes de… antes de tudo isso.

Isso sem contar o fato de a Guarda Imperial estar… indisponível. Estavam constantemente ocupados desde a morte do imperador, envolvidos em “assuntos de estado” que não compartilhavam com ela.

Os olhos azuis do sargento Lacerni analisaram os arredores mais uma vez, mas a escuridão da noite, aliada à leve neblina não deixavam ver nenhum movimento. As pessoas deveriam estar todas em suas casas, dormindo, àquela hora. Concluindo que não havia ninguém por perto, ele se voltou para ela.

– Você sabe algo sobre um certo aposento no subsolo? Um que parece ter guardas fortemente armados de vigília o tempo todo?

Valena franziu o cenho.

– Se refere ao laboratório alquímico? É o lugar mais bem protegido que eu conheço.

– Nosso homem e os… colegas dele estão fazendo visitas frequentes ao local ultimamente.

– Que interessante – disse ela, subitamente animada. – O que será que vou encontrar por lá?

– Por favor, tome cuidado, está bem?

– Não se preocupe, eu sei me cuidar. E já passou da hora de usar o treinamento que eu tive para algo útil. Obrigada por tudo.

– Não por isso. Agora é melhor você voltar, antes que alguém desconfie. Já está fora da cama há tempo demais.

– Sim – ela se virou e puxou o capuz para baixo, ocultando o rosto o máximo que podia, antes de começar a se afastar, mas então parou e olhou para ele por sobre o ombro. – Sabe, eu tenho saudades da época em que o senhor me tirou das ruas. Por mais ruins que as coisas fossem então, a vida parecia bem menos… complicada.

Ele deu um sorriso triste.

– Também tenho saudades. Mas você está destinada a um futuro muito mais glorioso do que o meu ou o de qualquer outra pessoa. Um pouco de complicação faz parte do pacote.

Com um sorriso, ela se virou e desapareceu na noite.

Jeniliaro Lacerni ficou parado ali por muito tempo, pensando no que fazer a seguir. Talvez fosse a hora de invadir o antro de ladrões e assassinos que ele descobrira na região sul da cidade há um tempo atrás. Tinha certeza que poderia eliminar vários deles antes que alguém conseguisse lhe cravar um punhal no coração. Seria uma boa forma de morrer: enfrentando vilões contra os quais podia lutar.

Sentindo-se o último dos homens, ele se virou na direção oposta à que Valena tinha tomado.

♦ ♦ ♦

A noite mais intensa e trágica da vida de Valena se iniciou de forma promissora e excitante, no dia seguinte a seu encontro com o sargento. Não teve problemas em conseguir se apoderar de uma armadura e um elmo fechado que a permitiram andar pelos corredores do palácio se passando por um dos guardas.

Ela se sentiu estranha vestindo aquilo. O peitoral havia claramente sido feito para mulheres bem mais… volumosas do que ela, ficando frouxo e desconfortável. E o fato de ela passar por pelo menos duas patrulheiras que preenchiam perfeitamente armaduras parecidas como aquela lhe deu nos nervos. Nunca tinha realmente se dado conta de que existiam muitas outras mulheres tão agraciadas naquele departamento quanto a princesa de Chalandri.

Tomando cuidado para não chamar atenção, ela se esgueirou pelos corredores subterrâneos. Os guardas das masmorras, que conversavam animadamente, fizeram silêncio quando ela se aproximou. Valena levou dois dedos à têmpora, numa saudação jovial, que foi prontamente retribuída, antes de eles retomarem a conversa.

Com um suspiro de alívio, ela seguiu em frente até a entrada do laboratório de alquimia. Um casal de soldados montava guarda, cada um de um lado da grande porta de madeira. Ambos eram altos e entroncados, provavelmente seriam adversários formidáveis numa luta. Valena fez uma pequena prece para que as coisas não precisassem chegar até aquele ponto.

Ela se postou diante deles e pediu para entrar. Ante a enfática negativa, Valena removeu o elmo, deixando que eles vissem seu rosto, antes de pedir licença novamente, com o máximo de educação que seu nervosismo lhe permitiu. Os soldados se entreolharam e assentiram um para o outro, antes de abrirem a porta para ela.

Adentrando na enorme sala, ela olhou para os lados, notando diversos artefatos e dispositivos especiais no chão, nas paredes e no teto. Haviam diversas mesas de madeira, cobertas com toalhas brancas e ladeadas por pequenos bancos.

Tomou um susto quando ouviu as portas se fecharem atrás de si, com um estrondo. E foi a partir de então que o pesadelo começou.

Malnem Rianam entrou no aposento por uma porta lateral, seguido por um homem de baixa estatura, grossas sobrancelhas e queixo quadrado. A expressão satisfeita e nem um pouco surpresa do conselheiro lhe disse que havia caído em uma armadilha.

A conversa que teve com ele foi confusa. Devido ao nervosismo da situação e a tudo o que acontecera depois, as lembranças de Valena eram nebulosas. Sabia que havia perguntado sobre o envenenamento de Azelara e que Rianam confirmara que Dantena era o responsável, não apenas por aquela morte, mas por várias outras. Por fim, ela perguntou se ele também havia sido o responsável pela morte do imperador, ao que Rianam respondeu com uma risada sinistra.

Ela se lembrava de ter desembainhado a própria espada e exigido que Rianam se entregasse, mas o outro homem havia aproveitado sua distração com as chocantes revelações para se esgueirar por trás dela e nesse momento agarrou-a pelos ombros.

Aquele contato havia sido uma experiência terrível. Todos os músculos de seu corpo foram assolados com uma forte onda de dor enquanto seus membros se moviam de forma errática e ela tombava no chão, impotente.

Vários minutos se passaram até ela conseguir recuperar o controle sobre seu próprio corpo e se levantar, trôpega, olhando, assombrada, para o homenzinho, que de alguma forma, havia se transformado em uma mulher ruiva bastante parecida com Valena, tendo até mesmo a marca da Fênix em seu rosto.

Rianam havia se apossado de sua espada e a apontava para seu peito enquanto falava diversas coisas das quais ela não se lembraria depois, pois a dor e o desconforto não permitiam que se concentrasse. Lembrava-se apenas de que, quando o viu levantar a arma para aplicar-lhe o que seria um golpe fatal, os instintos dela entraram em ação, recordando todas as árduas lições de combate corpo a corpo com o general Nevana. Ela então reagiu, e houve uma breve luta, na qual ela conseguiu recuperar sua arma. Então, o homenzinho, ou melhor, a mulher na qual ele tinha se transformado, entrou na luta, lançando rajadas de fogo contra ela.

Se não fosse pela ardência em seus músculos, Valena poderia ter encerrado aquela batalha rapidamente, mas nas condições em que estava ela teve bastante dificuldade para conseguir sobreviver. Depois de receber vários cortes, arranhões e queimaduras, ela se viu perdendo as esperanças quando Rianam a cercou em um canto, encostando um punhal em sua garganta.

Neste momento, as portas duplas foram derrubadas e vários soldados entraram, liderados pela coronel Dinares, da Província Central e pelo coronel Telarian, das Montanhas Rochosas. A surpresa de Rianam deu a Valena a oportunidade que precisava para reagir. Não seria capaz de descrever como fizera aquilo, mas lembrava-se claramente de ver a expressão de surpresa de Rianam quando ela lhe trespassou o coração com seu próprio punhal.

Enquanto isso, sua cópia lutava contra os soldados. Valena se perguntaria depois como os coronéis souberam identificar o impostor, já que ele era quase uma cópia dela, mas ficou muito grata por aquilo. Infelizmente, aquele inimigo era demais para eles. Assumindo a forma da Fênix, ele usou os poderes que havia, de alguma forma, copiado de Valena para lançar bolas de fogo em todas as direções, gerando um caos e destruição sem precedentes e, com isso, ceifando a vida da maioria de seus oponentes.

Por muito pouco, Valena conseguiu sobreviver, ativando seus poderes no último minuto e conseguindo assim se proteger do calor infernal. Infelizmente, não estava em condições de fazer muito mais do que aquilo e quando sua cópia voltou sua atenção para ela, tinha achado que era seu fim.

Mas então, os coronéis, que haviam sobrevivido sabe-se lá como, se levantaram de trás das mesas flamejantes. Enquanto Telarian atacava o impostor, Dinares puxou Valena pelo braço e a conduziu por um buraco na parede, aberto pelo frenesi de destruição do impostor, e a levou por um caminho tortuoso que terminou em uma escadaria estreita. Sons de passos podiam ser ouvidos no corredor, indicando que estavam sendo seguidas.

As duas conversaram um pouco durante a correria, mas, posteriormente, Valena não se lembraria sobre o quê.

Subiram correndo a escadaria e deram de cara com uma porta de madeira, que a coronel pôs abaixo com a maior facilidade com um poderoso e sobre-humano golpe da maça que carregava. Em seguida, a oficial colocou um pergaminho na mão de Valena e a mandou correr para a ponte de vento no centro do pátio.

Ferida, assustada, confusa e sentindo-se indefesa sem conseguir usar seus poderes, Valena obedeceu, correndo o máximo que pôde e ignorando os olhares espantados das poucas pessoas que estavam por perto. Ao subir na plataforma e jogar o pergaminho no chão, ela olhou por cima dos ombros.

A última visão que teve da coronel foi ela dando-lhe as costas para enfrentar quem quer que fosse que estivesse atrás delas. Então a ponte se ativou, levando-a para muito longe dali. Para um longo exílio.

♦ ♦ ♦

Até o momento em que voltou a encarar Aumirai Dantena naquela antiga fortaleza escondida no coração das Montanhas Rochosas, Valena não tinha se dado conta do quão irreal e vazia sua vida tinha se tornado desde aquele fatídico dia em que dois dos melhores oficiais do exército imperial sacrificaram suas vidas para permitir que ela escapasse do palácio.

Mesmo quando reassumira o trono, após a derrota de Demétrio Narode pelas mãos de Evander, ela nunca tinha conseguido se sentir livre e no comando da própria vida. O fato de os ex-conselheiros imperiais estarem à solta, controlando a maior parte do império e tramando contra ela sempre foi uma espécie de sombra, uma nuvem de apreensão pairando sobre ela o tempo todo.

Agora, enquanto encarava seus inimigos, tendo seus mais confiáveis aliados a seu lado e as leais tropas imperiais atrás de si, ela sentia, pela primeira vez em mais de um ano, que finalmente estava retomando as rédeas de sua vida.

– Rendam-se em nome de Verídia!

Suas palavras causaram três reações bastante diferentes.

Eliar Radal pareceu confuso e amedrontado, olhando de Valena para Dantena, nitidamente confuso, parecendo não souber direito o que fazer.

Odenari Rianam olhou para ela com olhos arregalados, mas depois de um instante, sua expressão mudou radicalmente, um enorme sorriso surgindo, como se estivesse… aliviada.

Por mais estranha que a reação daqueles dois pudesse ser, Valena não lhes deu muita atenção, concentrando-se no mais perigoso deles.

Dantena demonstrou surpresa, a princípio, mas depois estreitou os olhos.

– Pretendíamos deixar você viver por mais algum tempo, fedelha, mas já que decidiu nos agraciar com sua presença, podemos terminar com isso agora mesmo.

Cerca de uma dezena de soldados usando turbantes e os tradicionais uniformes vermelhos das Rochosas entrou no salão pela grande porta logo atrás de Dantena e se juntaram aos outros que já estavam ali, de armas em punho e encarando ameaçadoramente a imperatriz e seu exército.

Ao lado de Valena, Leonel Nostarius levou a mão ao cabo da espada e bradou:

– Ao meu sinal!

Quando o mais famoso, respeitado e reverenciado general de todos os tempos dava uma ordem, todo veridiano digno de sua nacionalidade obedecia. Incluindo a própria imperatriz.

Valena conjurou sua lâmina flamejante e aguardou, encarando seus oponentes com confiança e determinação. Ao lado dela, Sandora, Gram e Valdimor se retesaram, prontos para a batalha. A capitã Imelde e sua tropa prepararam suas armas, assim como os demais soldados atrás deles.

– Atacar! – Dantena gritou, num tom furioso.

Os montanos, como eram chamados os habitantes das Montanhas Rochosas, conjuraram todas as suas mais poderosas habilidades místicas, o salão fervilhando de energia enquanto inúmeros tipos diferentes de construtos eram formados e lançados na direção dos soldados imperiais.

– Agora! – Leonel exclamou, enquanto desembainhava a espada e a movia com violência num golpe em diagonal, cortando o ar à sua frente, a lâmina percorrendo um semicírculo quase perfeito.

Quase que imediatamente, todos os construtos gerados pelos montanos se dissiparam, como se fossem meras velas acesas sendo apagadas por um vento forte.

Sem aguardar nova ordem, Valena e seus aliados avançaram, iniciando uma acirrada batalha.

O salão era grande demais para que a aura de Sandora pudesse proteger a todos. Por mais que ela se esforçasse para se posicionar estrategicamente, não havia como evitar que houvessem fatalidades, e elas aconteceram. De ambos os lados. Não havia o que fazer além de terminar com aquilo o mais rápido possível, então ela se concentrou em usar todos os seus poderes sombrios para paralisar ou incapacitar o maior número de montanos que pudesse.

Valena não tinha espaço para invocar a forma da Fênix no meio daquela confusão toda, então teve que confiar em sua espada – que havia pertencido ao imperador Caraman – e no treinamento que havia recebido da Guarda Imperial. Valdimor lutava ao lado dela, lançando-lhe um ou outro olhar ocasional, num clima carregado de camaradagem e desafio. Sim, ele estava ali por ela. Mas ao mesmo tempo, também a instigava. Por mais inapropriado que aquilo fosse, ela queria impressioná-lo, mostrar que estava ao mesmo nível que ele. Que era digna de sua atenção. Era difícil interpretar as expressões dele quando estava em sua forma demoníaca, mas algo no leve sorriso arrogante daquele rosto lhe dizia que ele se sentia da mesma forma.

Gram avançava por entre as tropas inimigas como uma força da natureza, movendo-se com incrível rapidez e atacando os soldados mais afastados, impedindo que lançassem encantamentos que pudessem virar a batalha em favor dos montanos.

Tanto Valena quanto Sandora se surpreenderam ao notarem Falco Denar em meio à batalha, lutando lado a lado com a tropa da capitã Imelde. O acordo que tinham com ele determinava apenas que os trouxesse até ali. Ele próprio havia afirmado que depois daquilo iria para um lugar seguro, bem longe da batalha. Ao invés disso, no entanto, lá estava ele, lutando com determinação usando uma estranha, mas bastante eficiente técnica de combate com uma espada curta.

Dantena, Radal e Odenari ficaram juntos próximo à porta frontal do salão, protegidos por dois soldados que mantinham um escudo de proteção forte o suficiente para repelir os ataques dos veridianos, bem como impedir até mesmo a aproximação de Gram.

Em certo momento, Valdimor agarrou dois oponentes pelo pescoço e bateu a cabeça de um contra o de outro, fazendo com que ambos caíssem inconscientes e olhou na direção dos conselheiros. Aproveitando que o caminho estava livre, ele correu para lá e desferiu um poderoso soco no escudo semitransparente. Valena e Sandora tentaram se juntar a ele, mas foram impedidos pela aproximação de uma nova leva de soldados montanos.

Alguns dos recém-chegados tentavam atacar Valdimor pelas costas, quando Gram colidiu com eles a grande velocidade, atropelando-os e lançando-os a vários metros de distância.

Vendo que seus socos não tinham efeito sobre a barreira, Valdimor encostou sua mão nela e ativou seus poderes cinéticos, uma aura púrpura envolvendo toda a extensão da barreira. Dantena e os outros que estavam lá dentro sentiram o chão tremer quando ele, de alguma forma, agarrou a aura energética e começou a puxá-la para cima com grande esforço.

Dantena pegou algo do bolso, mas Odenari se lançou sobre ele, tomando o objeto de suas mãos e virando-o na direção de Valdimor. Imediatamente ele se imobilizou, a aura púrpura de dissolvendo no ar. Depois de um momento, ele levou ambas as mãos à cabeça e soltou um urro, numa demonstração de sofrimento tão grande que fez com que o coração de Valena desse um salto.

Com um grito de frustração, ela redobrou seus esforços para tentar derrubar logo os três soldados que bloqueavam seu caminho. Pelo canto do olho, ela percebeu quando Valdimor retornou à forma humana, parecendo sentir muita dor. E ficou imensamente grata quando viu Gram agarrando-o pela cintura e colocando-o sobre os ombros, carregando-o para longe da barreira e dos soldados que se aproximavam para ataca-los.

Valena finalmente nocauteou seu último oponente, quando foi agarrada pela cintura pelo chicote negro de Sandora e puxada para trás com força, caindo no chão com violência ao lado da bruxa. Uma bola de fogo atingiu o lugar onde ela estava antes e explodiu com violência, abrindo um grande rombo no chão e lançando fumaça e pedaços de pedra para todos os lados. Ela se levantou e olhou para Sandora, resmungando um agradecimento, quando percebeu que os olhos da outra estavam levemente arregalados e fixos em alguma coisa à sua frente.

Seguindo-lhe o olhar, ela percebeu que Dantena começava a fazer algum tipo de invocação por trás da barreira. Sentiu um arrepio na espinha e, instintivamente, voltou-se para trás, olhando na direção de Leonel Nostarius. Mesmo através de toda a confusão, o governador encontrou-lhe o olhar e assentiu de leve, antes de embainhar sua espada e retesar o corpo, como havia feito no início da batalha, fechando os olhos e tentando se concentrar. O grupo da capitã Imelde imediatamente se colocou diante dele para dar-lhe cobertura. O sargento Beni Parentini brandia o pesado Escudo do Expurgo – que havia sido reparado pelos sábios de Mesembria –, defletindo qualquer ataque que viesse na direção de Leonel, enquanto os demais se focavam na ofensiva.

– Vamos! – Sandora gritou, avançando. Valena a seguiu, conjurando pequenos jatos de fogo na direção dos olhos dos soldados inimigos que estavam no caminho, distraindo-os o suficiente para que as duas pudessem passar por eles.

Ao chegar perto o suficiente de Dantena, Sandora tentou usar seus poderes para ataca-lo, mas o escudo místico frustrou completamente seus esforços, que não tiveram qualquer efeito.

Então Valena percebeu algo surpreendente. Radal e Odenari discutiam com Dantena, que parecia não lhes dar ouvidos. Então, de repente, os dois deram as costas a Dantena e… começaram a atacar os soldados que mantinham o campo de proteção ativo.

Ao ver os dois montanos que o protegiam caírem, inconscientes, e notar a aproximação de Valena, Sandora e diversos soldados, Dantena praguejou, antes de tirar um outro objeto do bolso e lança-lo ao chão com força. Uma intensa onda de choque se formou, atingindo a todos, inimigos e aliados, incluindo Radal e Odenari, arremessando-os para além da metade do salão.

Quando voltou a se levantar, Valena viu que Dantena levava uma das mãos ao peito enquanto levantava a outra na direção deles. Uma imagem fantasmagórica surgiu ao redor dele, algo similar a uma árvore, que se metamorfoseou em uma espécie de concha de caramujo gigante.

A flutuação tinha uma energia tão intensa que até mesmo Valena conseguia senti-la. Sandora, que tinha uma sensibilidade extremamente maior que a dela, curvou-se levemente, levando a mão ao peito, como se estivesse sentindo dor física devido à intensidade da emanação. Não foi difícil adivinhar o que Dantena estava ativando. Não depois das explicações que havia recebido de Luma Toniato.

– É a Godika Geonika. Ele quer matar todo mundo!

Sandora apenas assentiu, aparentemente sem conseguir falar.

Nesse momento, a voz autoritária de Leonel Nostarius se fez ouvir.

– Corredor!

Os soldados que imperiais que estavam à frente dele imediatamente entenderam a ordem e obedeceram, deslocando-se para os lados. O aspirante Iseo Nistano se adiantou, fundindo um pequeno simulacro brilhante a seu martelo de batalha, um segundo antes de desferir um forte golpe no chão à sua frente, gerando uma onda de choque que abriu caminho pelo chão, rompendo o piso rochoso e lançando para os lados os soldados montanos e as pessoas que estavam caídas no chão.

Dantena chegou a esboçar um sorriso vitorioso quando a poderosíssima emanação mística do artefato começou a brilhar, iniciando o fenômeno que erradicaria todo e qualquer ser vivo em uma área cônica com centenas de metros de comprimento.

As décadas de treinamento e experiência do ex-general Nostarius, no entanto, levaram a melhor. Ele novamente desembainhou sua espada, mas dessa vez o fez durante um movimento de arrancada, movendo-se em uma velocidade sobre-humana pelo caminho aberto por Iseo. No que pareceu um piscar de olhos, ele atravessou o salão como um borrão, e no instante seguinte estava atrás de Dantena, a mão direita segurando a espada apontada para cima, encravada na imagem fantasmagórica do caramujo, que foi diminuindo de tamanho até desaparecer, toda a emanação mística flutuando ao redor da lâmina por algum tempo e finalmente sendo totalmente absorvida por ela.

Valena e os demais começaram a avançar na direção de Dantena, que olhava para as próprias mãos, confuso, como se não acreditasse no que estava acontecendo.

– Não! Isso não pode acabar assim! Isso não vai acabar assim!

Então ele virou-se e correu na direção da porta, onde um certo homenzinho de largas sobrancelhas e queixo quadrado o aguardava. Valena estreitou os olhos ao reconhece-lo e imediatamente ordenou:

– Parem!

Os soldados pararam de avançar e ficaram de prontidão, enquanto o homenzinho pronunciava algumas palavras e, de repente, começava a sofrer uma metamorfose bastante familiar. Em poucos segundos, ele havia se transformado em uma cópia quase idêntica da versão demoníaca de Valdimor.

Então ele deu um salto, tocando com o punho cerrado uma grande viga que sustentava o teto. A enorme peça de madeira foi envolvida por uma aura púrpura, e foi, praticamente, esmagada, partindo-se em inúmeros pedaços. Depois de cair no chão, a criatura se afastou, um segundo antes de o teto vir abaixo.

Leonel Nostarius precisou utilizar um novo movimento de arrancada para poder se salvar do desabamento, mas devido ao cansaço e ao pouco tempo de preparação, não foi uma manobra precisa, muito menos elegante. Ele acabou se chocando violentamente contra o corpo da capitã Imelde e os dois se espatifaram no chão.

Dois dos soldados imperiais reagiram imediatamente, materializando colunas de energia para sustentar as outras vigas e assim impedir que todo o castelo viesse abaixo, soterrando a todos. Com isso, o perigo mais iminente foi neutralizado, mas o caminho por onde Dantena tinha fugido estava completamente bloqueado pelos escombros.

Radal, Odenari e o restante dos soldados montanos viram-se cercados pelos veridianos.

– Rendam-se! – Radal ordenou a seus aliados, enquanto levantava os braços. Os soldados imperiais não perderam tempo e se aproximaram para prender a todos.

Leonel se levantava com a ajuda de Beni, lançando um olhar de pesar a Laina.

– Sinto muito, capitã.

– Ah, ela está bem, não precisa se preocupar, governador – Beni disse, sorrindo. – Garanto que ela vai passar anos se gabando do fato de ter amortecido a sua queda.

Laina, que levava a mão à cabeça, sentindo os efeitos colaterais da proteção concedida por Sandora, soltou um riso fraco e olhou para Beni.

– Também posso te colocar em dever de guarda por anos por insubordinação, sabia?

O sorriso dele se ampliou.

– Teria valido a pena.

Alguns soldados se ocupavam em carregar os feridos ou desacordados para fora. Vendo que a situação ali parecia sob controle, Valena se virou para um oficial.

– Tenente, desbloqueie aquela porta ou faça outra, exploda a parede, não me importo, apenas abra caminho!

Enquanto o tenente se apressava em obedecer, chamando alguns de seus subordinados para ajudar, Valena olhou na direção de Valdimor, que naquele momento aceitava a ajuda de Gram para se levantar.

– Você tem que entregar isso para ele! – Odenari estava gritando, enquanto Alvor a segurava com firmeza, mantendo-lhe os braços atrás das costas.

Valena olhou na direção da viúva de Rianam e cerrou os punhos.

– O que fez com ele?

Com uma das mãos, Alvor jogou um pequeno cristal na direção de Valena, que agarrou o pequeno objeto no ar com facilidade.

– Ela afirma que isso aí pode ajudar – disse ele.

Valena lançou um breve olhar ao cristal azulado antes de encarar a mulher.

– E por que eu acreditaria em você?

– Rianam! – Sandora disse, se aproximando do ex-conselheiro, que era firmemente segurado por Loren. – O que significa tudo isso?

O homem engoliu em seco.

– Não era eu. Não era eu! Vocês têm que acreditar, não era eu!

Valena franziu o cenho e abriu a boca para exigir algumas respostas, mas se interrompeu ao ver lágrimas escorrendo livremente dos olhos dele.

– O que quer dizer com isso? – Sandora exigiu.

– Narode! Ele fez algo com a minha cabeça! Com a de todo mundo! Tudo o que eu fiz… – ele olhou para Odenari, que continuava resmungando algo sobre Valdimor precisar do cristal – tudo o que nós fizemos…

– Como é?! – Valena exclamou, cética. – Vai dizer que se livrou do controle dele justo agora?! Um tanto conveniente isso, não acha?

– Eu não sei! Não entendo o que houve! Só sei que eu caí em mim quando vocês se aproximaram…

– O cristal! – Odenari começou a gritar histericamente, se debatendo. – Tem que dar o cristal para ele! Me solta! Se demorar muito vai ser tarde demais.

Alvor pegou um pedaço de tecido e enfiou na boca dela, forçando-a a se calar.

– Não! – Radal se exaltou, num tom de voz preocupado que Valena nunca tinha presenciado antes. – Não faça isso! Por favor, ela é inocente! Ela está dizendo a verdade! Não façam isso com ela! Ela não merece isso! Não depois de tudo!

Valena percebeu que a bruxa a encarava com seriedade. Será que Sandora acreditava mesmo naquela baboseira?

– Eu nunca conseguiria chegar até Dantena se Radal e Odenari não tivessem baixado o escudo – interveio Leonel Nostarius, tão exaurido que precisava da ajuda de Beni para se manter em pé.

Valena olhou mais uma vez para o cristal e depois para Valdimor, que se aproximava dela devagar. Nunca o tinha visto com uma aparência tão… vulnerável antes. Tinha um olhar atormentado, e seus músculos tremiam, o peito e o abdômen descoberto estavam brilhantes de suor.

Por fim ele estendeu a mão e tirou o cristal das mãos dela. Imediatamente, uma espécie de espasmo percorreu o corpo dele e Valena o viu desabar no chão, encolhendo-se todo enquanto segurava o objeto com força contra o peito.

Ela ajoelhou-se ao lado dele e tentou alcançar suas mãos, mas ele não lhe permitiu, cerrando os punhos com ainda mais força contra o peito e virando de lado, tentando se afastar dela. Valena tentou insistir, mas Sandora a segurou pelos ombros com força.

– Melhor se afastar.

– Me largue! Vai dizer que você acredita nessa macno la’aan?!

– Minha aura de proteção! Você sabe que ela pode livrar pessoas de controle mental!

Vendo que os tremores de Valdimor começavam a diminuir, Valena parou de se debater e ficou apenas olhando para ele, aflita. Por fim, ele pareceu relaxar, ainda mantendo a mão que apertava a pedra firmemente pressionada contra o peito enquanto o ritmo de sua respiração ia diminuindo.

Valena se voltou para Sandora.

– Você sabia de alguma coisa sobre isso? Você sabia! Por isso passou tanto tempo naquela masmorra! Não estava preocupada só com Valdimor, estava tentando influenciar esses dois também! Por que não me disse nada?

– Eu não sabia de nada. Apenas sentia que tinha algo errado, fiquei por perto para tentar descobrir o que era, mas não tive sucesso.

– Só pode ser brincadeira! – Valena exclamou, balançando a cabeça. Olhou mais uma vez para Valdimor, que parecia tão fraco e vulnerável ali. – Estão me dizendo que esses kuwa wax burburiya são… inocentes?!

– Por favor não machuque ela! – Radal implorava para Alvor, que apertou os lábios, desconfiado, mas removeu a mordaça improvisada, permitindo que Odenari voltasse a respirar normalmente. – Ela não merece, não depois de tudo que nós… que eu fiz com ela…

O tom desesperado e quase delirante do homem chamou a atenção da Sandora, que olhou para ele, estreitando os olhos.

– O que vocês fizeram com ela?

– Narode… odiava mulheres. Especialmente as mais poderosas. Odenari, Pienal e Gerbera… – ele fechou os olhos e balançou a cabeça, como se não suportasse o peso do que estava dizendo. – Elas… elas se foram… há muito tempo… nenhuma alma ficaria sã… depois de tudo o que… fizemos com elas.

– Solte-o! – Sandora ordenou a Loren, que obedeceu sem hesitar ao ver o olhar no rosto da bruxa.

Valena abriu a boca para perguntar que raios ela pensava que estava fazendo, mas não houve tempo para isso, pois no instante seguinte Sandora levantou a mão e um construto místico em forma de cauda de escorpião brotou do chão, empalando o corpo de Radal, apesar de não o ferir, pelo menos não fisicamente. Depois de um segundo o ferrão desapareceu como se nunca tivesse existido e o ex-conselheiro caiu no chão, completamente inerte.

Sandora olhou na direção de Alvor que tratou de soltar Odenari e se afastar. Repetindo o gesto de mão, a bruxa conjurou novamente o ferrão paralisante, fazendo com que a mulher também caísse, inconsciente.

– Levem os dois para fora – Sandora disse para a capitã Imelde, que assistia a tudo com expressão de perplexidade. – Mantenham eles completamente imobilizados. E alguém precisa ficar atento a eles o tempo todo.

Laina lançou um breve olhar a Valena antes de se voltar para seus subordinados e gesticular na direção do casal desacordado no chão.

Enquanto Beni, Alvor, Iseo e Loren carregavam Radal e Odenari para fora, Valena encarou Sandora.

– Acha que podem causar problemas?

– Não, eu só… – ela sacudiu a cabeça, inusitadamente sem palavras.

– Você fez a escolha certa – disse Leonel a Sandora. – Eles estavam abalados demais, sem condições de responder perguntas. Vamos deixar eles descansarem, podemos interroga-los mais tarde.

– Não quero mais ninguém morrendo por minha causa.

Sandora disse aquilo num tom de voz tão baixo que Valena quase não conseguiu ouvir. Ia perguntar o que ela queria dizer com aquilo, mas esqueceu de tudo ao ver Valdimor se colocando de joelhos. Ele abriu as mãos e deixou cair um punhado de pó esbranquiçado, que aparentemente era tudo o que tinha restado do cristal azulado.

Gram o segurou pelos ombros e o ajudou a se levantar. Valdimor olhou para a morta-viva e dirigiu-lhe um breve sorriso de gratidão.

– Você está bem? – Valena perguntou.

– Memórias… voltando – respondeu ele.

Ela apontou para a pilha de pó no chão.

– Era aquilo que eles usavam para controlar você?

Ele assentiu e olhou para ela de uma forma terna.

– Livre agora.

A expressão dele era de dor e exaustão. Valena então se lembrou da habilidade que utilizara por instinto quando encontrara Evander pela primeira vez. A habilidade que o imperador a havia ajudado a desenvolver, mas que ela nunca tinha precisado usar antes.

Ela levantou a mão e o tocou no peito. Uma emanação mística em forma de chamas surgiu no ponto de contato. Ele arregalou os olhos, mas não se moveu, enquanto as labaredas azuis e vermelhas cresciam, cobrindo seu corpo todo em poucos segundos.

Depois de alguns momentos, a energia mística se dissipou e ele olhou para as próprias mãos, surpreso. Então apertou os punhos com força, voltando a assumir a forma demoníaca.

Valena teve que se esforçar para evitar soltar uma exclamação de alívio. Aquele poder era muito mais difícil de ativar do que se lembrava. Não tinha certeza se poderia usar aquilo de novo tão cedo. Mas parecia ter funcionado perfeitamente, Valdimor parecia descansado e cheio de energia, apesar das roupas rasgadas e das marcas e arranhões sofridos na batalha, nos momentos em que tinha ficado longe demais para que a aura de Sandora o protegesse.

Nunca imaginara que um dia poderia ficar tão feliz em vê-lo assumir aquela aparência assustadora. Pensou em perguntar novamente se ele estava bem, mas mudou de ideia ao encarar aqueles olhos vermelhos.

– Alguém vai sofrer – ele disse, com uma raiva e uma determinação que ela não tinha visto antes.

– Você também já encontrou com aquele homem antes – Valena fez um gesto de cabeça na direção dos escombros.

– Sim.

– Você o conhece? – Sandora perguntou a Valena.

– Ele drena poderes das pessoas – respondeu ela, assentindo. – Ou copia, sei lá. Tentou me matar com minhas próprias habilidades uma vez.

– É só um idiota supersticioso que gosta de fazer drama – comentou Falco, se aproximando deles com um sorriso arrogante.

Sandora olhou para ele de cenho franzido.

– Por que ainda está aqui? Já cumpriu sua parte, está livre agora.

– Ainda não consegui o que eu quero.

– E por que acha que ajudaríamos você a conseguir o que quer que seja?

Ele sorriu.

– Se quer saber, me ajudaram bastante até agora – o sotaque dele estava bastante pronunciado, muito parecido com o da princesa Joara quando ficava muito excitada ou nervosa. Valena não sabia dizer se aquilo era bom ou mau sinal. – Não só me deram o prazer de ver aquele verme metido a chefão fugir com o rabo entre as pernas como tiraram o brinquedinho favorito dele. Além de colocarem aqueles dois capachos dele para dormir.

– Ainda está sob efeito do feitiço, não se esqueça disso – avisou Valena. Ela não gostava nem um pouco de usar esse tipo de subterfúgio, mas esse homem havia tentado matá-la, então havia autorizado aquilo como medida de segurança.

– Não esquente essa cabecinha vermelha, princesa. Não é você quem eu quero – ele a olhou de cima a baixo. – Pelo menos não agora. Mas quem sabe…

Ele não teve tempo de terminar o que ia dizer, pois as garras de Valdimor se fecharam ao redor do pescoço dele, levantando-o do chão com assustadora facilidade.

Neste momento, um estrondo chamou-lhes a atenção. Os soldados tinham acabado de abrir um rombo na parede.

– Vamos! – Sandora exclamou, começando a caminhar, decidida, naquela direção. Valdimor soltou Falco e o encarou com frieza durante um momento, antes de seguir atrás da bruxa, junto com Gram.

Falco ficou encarando Valdimor pelas costas, enquanto massageava o pescoço com um sorriso presunçoso, parecendo muito satisfeito consigo mesmo, antes de sair atrás deles.

Valena se virou para Leonel, que parecia fraco e indisposto, e levantou a mão, silenciosamente pedindo para que permanecesse onde estava.

– O império está, mais uma vez, em dívida para com o senhor. Provavelmente não teríamos sobrevivido a essa batalha sem sua ajuda. – Ela fez uma breve pausa, antes de levar a mão à testa, num gesto de continência. – Seu trabalho está concluído, senhor. Pode ficar tranquilo que podemos assumir a partir daqui.

Leonel a encarou por alguns instantes. O olhar dele se desviou para Sandora por um momento, mas então ele pareceu se decidir e retribuiu o gesto da imperatriz, antes de se virar e se afastar na direção dos fundos do salão com alguma dificuldade, mas recusando a ajuda oferecida pelos oficiais que estavam por ali.

Valena se virou e correu para alcançar os outros. Era hora de terminar aquilo. Definitivamente.

— Fim do capítulo 18 —
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