Os grandes oceanos que cercam o continente do império a leste e a oeste são fontes de inspiração para muitas histórias e lendas. Suas águas, calmas e tranquilas quando próximas à costa, e cada vez mais agitadas conforme se navega para mar aberto, causam um fascínio quase irresistível para aqueles de alma aventureira. O que haverá para além daquelas ondas? Existirão outros continentes, habitados por outros povos? Ou seria aquele mar infinito, habitado por gigantescos e agressivos monstros marinhos?
Mesmo depois de tantos séculos de navegação e exploração marítima, ainda não se sabe a resposta para essas perguntas. E apenas aqueles dotados de excepcional bravura ou fenomenal estupidez ousam tentar a sorte além das regiões mapeadas e consideradas seguras. Diz-se que você precisa ser extremamente corajoso ou irrevogavelmente insano para navegar até a Grande Tormenta.
Os oceanos são navegáveis por milhares de quilômetros além da costa, mas a partir de um determinado ponto, correntes marítimas fortíssimas e ventos inacreditáveis criam ondas gigantes, capazes de fazer em pedaços até a mais resistente das embarcações. Pesadas e escuras nuvens cobrem a tudo, como um imenso nevoeiro negro ocasionalmente riscado por mortíferos relâmpagos. O barulho dos trovões é alto o suficiente para testar a coragem dos aventureiros, mesmo que estejam a centenas de quilômetros da tormenta.
Não importa se você esteja no oceano oriental ou no ocidental, qualquer tentativa de se afastar demais do continente, em qualquer direção, irá levá-lo a um encontro, possivelmente mortal, com a grande tormenta, que também é conhecida por muitos como o “fim do mundo”.
Estudiosos tentam investigar as causas desse misterioso fenômeno e conseguiram chegar a algumas conclusões, embora ainda estejam muito longe de encontrar uma explicação.
Mas, para o imaginário popular, nada é inexplicável. Conta uma lenda que certa vez existia uma linda moça chamada Sérpide. Ela era a filha de um temido pirata que atacava navios de carga que faziam a rota comercial entre o continente e a grande ilha de Halias.
Certo dia, o navio do pai de Sérpide foi emboscado por uma frota de embarcações de batalha liderada pelo grande capitão Ausonius. Houve uma grande batalha, onde os piratas, que lutavam até a morte, foram fragorosamente derrotados. Após o grande pirata perecer em combate pelas mãos do capitão Ausonius, Sérpide tentou se vingar da morte do pai desafiando o capitão para uma luta de sabres, até a morte. Pedindo para que seus oficiais mantivessem distância e não interferissem, Ausonius aceitou o desafio e assim iniciou-se o mais fabuloso duelo que aqueles marinheiros jamais voltaram a presenciar em suas vidas. Era uma luta surpreendentemente equilibrada, o vasto treinamento militar do capitão contra a rapidez e astúcia da jovem pirata. O embate durou o que pareceu uma eternidade, até que ambos perdessem as forças a ponto de serem incapazes de continuar segurando suas armas.
Variações mais românticas da história contam que, embora não admitissem, nenhum dos dois estava realmente interessado em vencer o duelo, mas o consenso é que, no fim, ambos se viram sentados no chão, de costas um para o outro, tentando desesperadamente recuperar o fôlego, enquanto os marinheiros gritavam animados e declaravam empate.
Ausonius se recusou a mandar Sérpide para as masmorras e acabou permitindo que ela fugisse antes deles chegarem ao porto. Semanas depois, enquanto perseguia um outro navio pirata, foi a vez do capitão sofrer uma emboscada. De alguma forma, um pequeno mas muito bem treinado grupo de piratas haviam se escondido no navio antes da partida e, um a um, os marinheiros foram incapacitados. Novamente, as histórias mais românticas contam que não houve nenhuma vítima fatal por ordens expressas da capitã dos piratas: Sérpide.
Entretanto, ver o assassino de seu pai indefeso e à sua mercê não foi tão glorioso e satisfatório quanto a garota pensava. Muito pelo contrário, aquilo apenas mostrou a ela o quão vazia e solitária seria sua vida agora que seu amado pai não estava mais com ela e subitamente, ela percebeu que não valeria mais a pena continuar vivendo. Assim, ela libertou Ausonius, sabendo que seria presa e que pagaria por seus crimes com a própria vida. A única coisa que pediu em troca foi que ele deixasse os piratas dela irem embora.
Ausonius, no entanto, fez uma inusitada proposta aos piratas: trabalharem para ele, em troca das vultosas recompensas que teriam caçando outros navios piratas. Movidos por sua lealdade a Sérpide, e depois de muita negociação, os piratas acabaram aceitando o acordo.
Sérpide e seus seguidores cumpriram suas primeiras missões com contrariedade, mas a maioria daquelas pessoas, incluindo a própria Sérpide, eram dotados de espírito aventureiro e não demorou muito para adquirirem um gosto especial por aquele trabalho. Afinal, o que mais os motivava, até mesmo mais que o ouro, era o prazer da caçada, da derrota de seus oponentes.
Entre uma aventura e outra, Ausonius e Sérpide finalmente acabaram admitindo o grande elo que havia entre eles e decidiram se casar.
Então, um certo dia, o navio do casal foi surpreendido por uma tempestade e acabou se afastando demais da costa, ficando a deriva em mar aberto. A tripulação então foi surpreendida ao ver o navio cercado por monstros marinhos. Criaturas humanoides com aspecto de peixe pularam para o convés e iniciou-se uma batalha ferrenha.
Sérpide viu que aquela era uma batalha perdida, e quando Ausonius caiu mortalmente ferido, um homem de excepcional beleza surgiu e ordenou que os monstros recuassem. O recém-chegado apresentou-se como Adebaras, uma das Grandes Entidades que habitavam os mares e pediu que ela viesse viver com ele para sempre, com sua consorte, em troca da vida de seu marido.
Sem hesitar, ela aceitou a proposta e Adebaras curou os ferimentos de Ausonius e partiu, levando Sérpide consigo.
Completamente transtornado, o capitão navegou incansavelmente pelos mares durante anos, procurando uma forma de desafiar Adebaras e resgatar Sérpide, até que conseguiu irritar uma bruxa do mar o suficiente para ela concordar em lhe dar o poder que ele precisava para isso. Assim, o capitão trocou sua humanidade por poder e partiu para desafiar Adebaras.
O duelo entre ambos dura até hoje, e as Grandes Tormentas são causadas pelos espíritos conjurados por Adebaras e Ausonius. Isso explicaria relatos de marinheiros que juram ter visto, em meio à tormenta, ondas e nuvens com formatos de monstros e outras que lembravam soldados montados em cavalos brilhantes cavalgando em direção à batalha.
Adebaras teria transformado Sérpide em uma criatura das águas, o que explicaria uma estranha corrente marítima que teria surgido do nada e salvado diversos navios de serem engolidos pela tormenta. Esse fenômeno acabou recebendo o nome de “Corrente Sérpide”.
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