Outra formação natural bastante peculiar no império, é o gigantesco paredão de gelo na parte norte do continente. Trata-se de um conjunto de geleiras disposto em camadas, onde cada camada é mais alta e mais espessa que a anterior, sendo que a última camada visível se estende para acima das nuvens. O clima da região é extremo, com fortíssimos ventos e tempestades de neve constantes.
Inúmeros aventureiros partiram para tentar vencer a geleira, na esperança de descobrir o que há além dela, mas os poucos que de lá voltaram contam que não é possível ir muito longe, devido às temperaturas extremamente baixas e ao ar rarefeito, que torna a respiração quase impossível a partir de determinada altitude.
O “paredão”, como é conhecido, atravessa o continente de leste a oeste, numa linha irregular que marca o limite norte do mundo conhecido, estendendo-se inclusive, sobre os oceanos, que são cobertos por uma espessa camada de gelo que se estende por vários quilômetros desde o paredão até as águas navegáveis mais ao sul.
Os estudiosos defendem que é bobagem tentar ultrapassar essa barreira. Mesmo que isso fosse possível, as correntes energéticas da região dão a entender que provavelmente não existe nada além daquele ponto. Ou pelo menos nada que tenha alguma ligação com o campo energético. Como tudo que existe interage com o campo de uma forma ou de outra, essa conclusão dos sábios acabou gerando um outro apelido para o paredão: “o fim do mundo”.
Muitas histórias são contadas em relação ao paredão. Muitas delas dizem que o lugar é o lar de uma ou mais das Grandes Entidades.
Conta uma lenda que certa vez, num vilarejo das montanhas ao norte de Atalia, um casal foi abençoado com o nascimento de seu primeiro filho. No entanto, o parto havia sido difícil e envolvido com preocupação com a saúde da esposa e com a alegria pelo nascimento do bebê, o marido esqueceu-se de fazer o ritual a Orioninte, a entidade do gelo, que exigia uma oferenda de sementes e fungos que deveriam ser queimados em uma pira especial sempre que uma criança nascesse. Com isso, a entidade passaria a proteger o novo membro da comunidade contra os perigos e armadilhas das traiçoeiras terras geladas. Quando se lembrou de fazer o ritual, o homem percebeu que era tarde demais, pois o fogo se apagava sempre que era aproximado da pira.
Vendo aquilo, os aldeões entraram em pânico, afinal, a entidade tinha sido insultada e certamente daria as costas a eles, parando de conceder as bênçãos da caça e pesca farta e fazendo-os morrerem de fome e de frio. Quando uma tempestade de neve surgiu, a mais terrível e inclemente que aquelas pessoas jamais tinham visto, o chefe da vila decidiu que a única alternativa seria banir o casal e a criança dali, para salvar o resto do vilarejo.
Inconformado com aquilo que considerava uma injustiça, o jovem pai decidiu viajar até o paredão, com o objetivo de encontrar pessoalmente a entidade e implorar por seu perdão e suas bênçãos. Assim, numa triste manhã, a esposa ainda convalescente recebeu aquele que seria o último beijo do marido, antes dele partir, resoluto para o norte e nunca mais voltar.
Alguns dias depois, ao acordarem, os aldeões perceberam que a tempestade tinha finalmente acabado. Ao saírem de casa, viram um grande pássaro das neves pousado sobre a pira de oferendas, calmamente lubrificando suas penas. Aquilo causou grande comoção na vila, pois esse tipo de criatura não tolerava a presença de pessoas, no entanto, aquele indivíduo era manso e tranquilo e deixava até que as crianças brincassem com ele.
Todos concluíram que aquele pai tinha sido vitorioso em conseguir a bênção de Orioninte, que havia mandado aquele pássaro como seu avatar. O pássaro nunca demonstrou vontade de ir embora. Ele até mesmo ajudava os aldeões na caça e na pesca, e espantava as criaturas malignas da floresta, de forma que aquela vila nunca teve tanta paz e prosperidade.
A esposa continuou aguardando pelo retorno do marido dia após dia durante meses. Às vezes ela sentava-se sobre uma pedra e ficava horas olhando para o norte, onde o paredão era claramente visível. O pássaro das neves pousava ao lado dela e ficava ali parado, uma companhia silenciosa para aquela vigília sem esperança.
Os anos se passaram, o bebê cresceu, tornou-se forte e valente, casou-se e formou a própria família. E o tempo todo, o pássaro das neves esteve presente, aparentemente imune à passagem do tempo. No entanto, quando a viúva veio a falecer, vítima da idade avançada, o pássaro das neves deitou-se ao lado dela e deu também seu último suspiro, como se sua missão tivesse também chegado ao fim.
Orioninte nunca deixou de lançar suas bênçãos sobre a vila.
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